segunda-feira, 17 de julho de 2017

Tantra

Foi o cheiro, aquele cheiro, que lhe ganhou. Sentiu vibrar cada um dos pelos em seu corpo. Sentiu estremecer a espinha, arrepiar a pele. Perguntou-se como pode o olfato ser tão poderoso. Tal qual um bicho, aspirou o quanto pode. Apesar da fumaça, da intensidade dos cheiros naquela noite, aquele, em particular, adocicou-lhe as narinas, encheu os pulmões com muito mais do que ar. Queria poder sentir por toda a noite. Não só o cheiro, mas o gosto daquele cheiro. Olhar mais de perto, encarar. Sentir.
Por falta de coragem - ou excesso de medo, quiçá - contentou-se em cheirar. Mas à noite, em seus sonhos, enfrentou a fobia. Venceu o momento. Cheirou, olhou, encarou, sentiu. E como sentiu. Naquela utopia, não permitiu trazer consigo somente a lembrança de um abraço molhado. Em seu devaneio, permitiu-se ser feliz.

Nenhum comentário:

Postar um comentário