quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Terço

Dez anos, seu Ney. Dez anos sem o senhor por aqui. Já não lembro com precisão da sua voz, mas me embalo ao som que você cantarolava, feliz pela casa, gravado aqui na memória. "Caiarolina, Caiarolina"... A cabeça, esperta que é, vai apagando a memória dos dias difíceis e ficam só os bons tomando conta. Exceto aquela madrugada de sexta-feira, quando o telefone tocou. Sou capaz de repetir cada uma das palavras que anunciavam sua partida. Das lembranças que doem, essa é, sem dúvida, uma das mais marcantes. Aquela sexta não teve cor, mesmo sob o céu azul de Salvador. O dia era de chuva dentro de mim.
Tantas outras sextas vieram, ano após ano, tantos dias felizes - ou não. Apesar da dor da saudade, essa eterna companheira, o sentimento que vem, agora, é a gratidão. Sou grata pelos anos que passamos juntos, pela oportunidade maravilhosa de conviver com o senhor aqui na Terra. Sinto-me feliz por cada coisa que me ensinou, seu Ney, e pelos detalhes em mim que evidenciam sua presença.
É, faz tempo. Um terço da minha vida sem você, vozinho. Um terço orando, agradecendo e aprendendo a lidar com sua ausência, tão presente em nós. Dez anos de saudade que não tem fim.