terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Roza

- Eu espero que você continue a gostar de mim...
Nunca vou esquecer do seu olhar de medo quando me contou uma das coisas mais difíceis da sua vida. Mesmo distante, mesmo que tenha sido tão pouco tempo de presença constante, nossa amizade era algo forte, de coração. Coisa de gente que se ama assim, gratuitamente.
E não tem nada que pudesse diminuir isso. Porque você era assim, perfeito ao seu jeito. Era riso, era canto, era prosa. O que a gente viveu era poesia, da mais linda. Dessas que se guarda na memória. Dessas que vira roteiro de filme, do jeito que você gosta. Com uma trilha bonita e uma direção toda Roza.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Luz

Foto: Irineu Ricardo


É tão rápida a incidência da luz ao atravessar nossa retina que sequer percebemos que é tal fato que nos permite maravilhar as belezas que encontramos. A física explica, mas é tão natural amar o verde, o azul, o amarelo, tantas cores!, que nem nos damos conta de que elas, na verdade, não estão ali. Apenas refletem aquela que o objeto em si não pode absorver.

Certamente, de todas as belezas, a luz é a maior. É ela que nos permite conhecer as formas, as nuances, os caminhos. É por ela que oramos quando não encontramos uma resposta. É com ela que a nova vida chega.

Quando você abre a janela e deixa a luz entrar, sente o calor que irradia dentro do seu corpo, parte a parte. E entende que é graças à luz que enxergamos a vida. E nossas crianças, nossas cidades, nossos amores. É a luz que registra, ao se deixar desenhar pelas lentes de olhares atentos, os momentos mais felizes que passamos. Os mais marcantes. E, porventura, os mais tristes também.


E o mais incrível, perceberão os corações mais intensos, é que a luz está aí, em toda parte. Dentro de cada um de nós. Porque, no final, tudo é luz.

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O texto e a foto fazem parte do livro "Campo Mourão em Olhares e Versos", organizado por Lucas Mantuan e Jenifer Yasoyama e com correção da Gracieli Polak. A ideia era escrever um texto a partir de fotos de fotógrafos da cidade. O meu texto foi complementando as fotos do Irineu, mas escolhi esta para este post.

sábado, 9 de março de 2013

Discalculia*

Não me venha com números. Nunca nos demos bem. Os números são frios, estáticos, calaos. Por mais exatos que sejam, costumam apresentar margem de erro. E, mesmo assim, não perdoam a inexatidão humana.
Não me venha com números. Ele generalizam, somam males, diminuem vidas. Contabilizam, sem dó nem piedade, tudo aquilo que nos assusta, amedronta e entristece.
Não me venha com números. Eu gosto mesmo é de sorriso, de histórias, de gente. De cheiro de vida, de calor de abraço, de gosto de beijo. Números me mostram, quando muito, um quadro geral. Mas eu não quero saber do todo, mas da Maria, do João, da Amélia. E de você. Por isso, por favor, não me venha com números.

* discalculia: perturbação ou dificuldade no cálculo aritmético. O mesmo que dislexia, aplicado à matemática.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Novos caminhos

Não passou a noite anterior acordada, de tão ansiosa, como antes. Tampouco preocupou-se em ver, com antecedência, como faria para estar lá, mesmo longe e com hora marcada. O passo, já firme, entretanto, tremeu ao entrar na sala. Cheia, de tantos rostos desconhecidos e completamente sem marcas. O tempo não passara por ali. Olhou para suas unhas que, sem perceber, tinham sido pintadas de um rosinha que talvez tentasse enganar àqueles que não conhecia. Até mesmo a flor, infantil, em uma das unhas tentava lhe dar menos anos que os que tinha passado. Mas não era consciente, era quase irracional. Caminhou até o fundo e se sentou, próxima à parede. Pegou o caderno rosa com um gatinho na capa, mais uma tentativa insensata de tentar fazer parte, talvez. Olhou atenciosamente à mestra na frente e se deliciou com cada momento da aula que se seguia. É, era caloura novamente...