sexta-feira, 30 de julho de 2010

Enamorada

Estavamos eu, Lari e Lívia em Buenos Aires, nas nossas férias. Só que era dia de fechamento do jornal e eu e a Lari precisávamos deixar tudo pronto antes de sair. A Lívia, então, foi dar uma volta, sozinha. À tarde, quando chegou na casa do Pablo, tinha um ar diferente, encantado.
- Meninas, vocês não vão acreditar. Eu tava andando num shopping e um cara saiu correndo atrás de mim. Deixou a loja que estava cuidando e veio atrás de mim. Disse que eu era muito 'hermosa' e que ele estava 'enamorado' de mim! E ele é tão lindo! Aiai...
- Sério, Lívia? Como assim? - perguntei.
- Não sei, eu tô encantada.
- E aí? Qual é o nome dele? - questionou a Lari.
- E aí que ele anotou meu telefone e vai me ligar pra gente sair mais tarde. Juan. Se chama Juan. Nome de galã, né?
- Uau! - Exclamamos, as duas.
Dito e feito. Mais tarde o tal do Juan liga e eu atendo.
- Hola.
- Hola. ¿Lívia?
- No, no. Aqui es Paula, amiga da Lívia. Un minuto. - e coloquei a mão no bocal do telefone, para gritar: - Líííívia! Telefone pra você. Acho que é seu príncipe...
- Ai, me dá! Hola, Juan - debruçou sobre a estante, na maior pose apaixonada -, sim, sim, tô bem. Claro! Hoje! Isso. Mais tarde. Tá. Onde te encontro? Ok. Até lá.
Desligou o telefone.
- Ai, gente, eu vou ver o Juan! Ai, ele é tão lindo, tão 'hermoso'.
Tomou aquele banho, colocou aquela roupa, passou o melhor perfume, um salto bem bonito e foi. Mais tarde voltou, com um sorriso enorme.
- Meninas, vocês não vão acreditar. Ele é um encanto. Super romântico. Ele disse que quer me beijar 'de pelo a pelo'.
- De pelo a pelo? Uuuuui! - gritamos.
E assim foi, por uns dois ou três dias. A Lívia saía e voltava encantada com o Juan. Até que ela chega dizendo que ele havia convidado, também, a mim e à Lari para sair.
- Ele vai chamar dois amigos dele! Vai ser perfeito!
Chegado o tal dia, nos arrumamos. Eu e a Lari estávamos ansiosíssimas para conhecer os nossos 'pretendentes porteños'. O interfone toca.
- São eles!
Descemos. Ao sair do elevador, um susto. Dois 'chicos' um tanto quanto... esquisitos à porta. Nessa hora a Lari segura meu braço com força.
- Paula, estamos ferradas...
E Lívia interrompe, animada:
- O sem boné é meu!!!
Risos. Muitos risos. Eu tentei me conter ao máximo, mas foi muito complicado com a crise que deu na Lari.
- Y ¿dónde está el tercero? - perguntei.
- Allá, en el auto.
Nisso o de boné enganchou no braço da Lari e a Lívia abraçava o seu 'amor'.
- Me llamo Max - disse o que acompanhava a Lari.
Chegamos ao carro. O terceiro - meu pretendente!!! - parecia que tinha acabado de chegar de Bollywood. Ou Ciudad del Este, tanto faz. Mas, no carro, só cabiam cinco pessoas. Logo, uma precisava ir no colo. É claro que a Lívia foi a escolhida.
Eu e a Lari ríamos, muito. E a Lívia começou a perceber que era do seu acompanhante. E começou a ficar envergonhada. E ele, para ajudar, ficava gemendo no seu ouvido. E dizendo todos os lugares no corpo dela que queria beijá-la. Naquela noite.
O celular do Max tocou. Um amigo que, ouvindo a conversa e as risadas no carro, perguntou quem estava junto.
- Três brasileñas - exclamou. - ¿Quieres hablar con una de ellas? Si, un minuto. Paula, hable con mi amigo.
- Hola. Todo bien, ¿y vos? Si, si. Aún no sé dónde vamos. ¿Max? ¿Si? No creo!
- O que? - perguntavam as meninas. Max abriu um sorriso de vitória.
- O amigo do Max me disse que ele tem uma 'anaconda'. Acreditam? ¿Verdad, Max?
- Eso dicen. Pero no es una anaconda, cerca de los brasileños. Pero funciona bien, le garantizo.
Pronto. Fechou com chave de ouro. Até o Juan começar a fazer danças sensuais para a Lívia no meio do bar lotado, claro.
















Uma fotinho do encontro, para imortalizá-lo.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

E você,quer ser um porquinho-do-mato ou um porquinho-da-granja?

Eu estava há algumas semanas com o intestino maluco. Ora preso, ora solto demais. Como não gosto de ir a médicos, fiquei adianto o inevitável. Mas chegou a tal ponto que ele não prendia mais. Nada. Eu não podia levantar que tinha que correr para o banheiro.
Além disso, eu viajaria na semana seguinte para um país desconhecido, onde permaneceria por duas semanas. Eu precisava tratar daquilo logo!
Chamei uma das meninas que morava comigo para me acompanhar à clínica. Não marquei consulta, era uma emergência.
- Tem algum médico de plantão?
- Tem sim, o dr. Napoleon, você já é paciente?
- Não, primeira vez.
E última.
Dr. Napoleon é um chileno que vive há tempos aqui. Mesmo assim, não fala o português de maneira muito... 'entendível'. É médico com especialização em gastroenterologia. Mesmo sem querer, fui parar na consulta certa. Ou não.
Ao entrar no consultório, um senhor simpático me estendeu a mão.
- Bon dia, meninas. Quem vai se consultar?
- Eu, doutor - respondi.
- Entón, me diga, que você tem?
- Ai, doutor, eu tenho andado com o intestino maluco. Ou ele trava ou ele fica solto demais. Mas hoje tá impossível, não consigo ficar em pé que tenho que correr pro banheiro...
- Tudo bem, vou te examinar.
Checou pressão, batimentos cardíacos, garganta.
- Você quer ser um porquinho-do-mato ou um porquinho-da-granja?
- Oi?
- Um porquinho-do-mato ou porquinho-da-granja?
- Desculpe, não entendi.
- Quer ser um jugador de futebol pobre ou um jugador de futebol rico?
- Ahm?!
- Quer ser uma princesa ou um rei?
- Uma princesa?...
- Si! Porque a princesa es magriña e o rei, no, o rei es gordóóón. E o jugador de futebol pobre. Ele es esbelto, corre bastante, tem saúde. Já o jugador de futebol rico, não. É obeso. Ninguém na Europa quer ele, que volta no Brasil só pra jogar no Corinthians mesmo.
- ...
- E o porquinho-do-mato? Ah, ele sabe o que comer. Vai lá e escolhe todas as plantinhas saudáveis, pega só que faz bem. O porquinho-da-granja não. Pra ele dão ração, vai pra engorda e pro abate.
- ...
- Vou passar una dêta pra você.
- Uma o que?
- Una dêta.
- Uma dieta, Paula - disse a menina que morava comigo.
- Siiii! Nada de Coca Cola. Coca Cola no!
- ...
E começou a escrever a minha dieta.
- Mas doutor...
- Un minuto.
- E a diarreia dela, doutor? - perguntou a menina que me acompanhava.
- Ah, claro, claro. Si. Entón, por agora, pode tomar Coca Cola. Mas só porque Coca Cola ajuda com a diarreia. Vou passar uns exames para você. Daí você me traz os resultados. E depois que passar esse probleminha a gente vai seguir com a dêta. E você vai fazer junto com ela, porque está precisando - disse, enfático, à menina que estava comigo.

...

Quando saíram os resultados, voltei ao consultório.
- Vamos ver. No tem diabetes... nem pressão alta... Colesterol ok... É, pelo que parece no tem nenhum problema grave de saúde. Vamos começar a dêta?
- Mas doutor, meu problema ainda não resolveu...
- Entón continue o tratamento. Quando terminar, volte aqui que vamos começar a dêta.

...

Como meu problema não foi solucionado, fui procurar outro médico. Deixei de lado meu convênio e fui ao Posto 24 Horas, ser atendida pelo SUS. Ao entrar no consultório, expliquei ao médico o que se passava. Contei que tinha procurado outro profissional e que ele tinha me passado alguns exames.
- E você trouxe esses exames?
- Trouxe, sim.
Ele pegou o envelope, abriu. Olhou atentamente as páginas quando se deu conta.
- Mas aqui não tem o resultado do exame de fezes.
- Eu não fiz exame de fezes.
- Como não? Quem foi o médico... aaaah... não leve em consideração, ele está velhinho, já. E o que ele te disse?
- Perguntou se eu queria ser um porquinho-do-mato ou um porquinho-da-granja?
- Como?
- Isso mesmo que o senhor ouviu. Se eu queria ser um porquinho-do-mato ou um porquinho-da-granja.
O médico riu. Incontrolavelmente. Quando, finalmente, se conteve, me fitou bem dentro dos olhos.
- E você, respondeu o que?

terça-feira, 20 de julho de 2010

Eleições 2010

- Heim, Sid, você bem que podia me ensinar um pouco sobre política, né?! Eu não entendo nada...
- Paula, olha só, é simples: o PT é do bem. O PSDB e o DEM são do mal. Eles até fingem que são do bem, às vezes, mas a gente tem que estar atento, eles são do mal. E lembre-se: a gente tem que ajudar o bem...
(Quer mais bem explicado?!)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Erro de percurso

Aconteceu há alguns anos. Depois de anos esperando, fez uma das tão desejadas cirurgias. Suas amigas sempre souberam: queria reduzir os seios, excessivamente volumosos, e acabar definitivamente com a miopia que quase a cegava. E com o astigmatismo, também. Queria ver-se livre das lentes - as de contato, mais frequentes, e as dos óculos.
Depois de passar as férias na casa da mãe, ela voltava às aulas. E a cirurgia, almejada por longos anos, havia sido realizada. Uma tarde, na casa da amiga, lembrou-se de que não havia comentado com ela sobre o fato.
- Débora, te contei que finalmente fiz minha cirurgia?
- Não, sério? - disse, enquanto caminhou em direção à amiga. - Nossa, mas nem parece, não fez muita diferença - certificou, ao apalpar os seios da colega, que parecia assustada.
- É porque eu fiz a do olho.

domingo, 11 de julho de 2010

Minha irmã caiu do telhado.

Aconteceu nessa semana. Tomamos um susto, ela passou o dia todo no hospital. Ainda bem, nada demais aconteceu. E comecei a pensar no assunto.
Desde criança minha irmã ama os céus. Sempre quis voar.
Lembro de nós duas no chão da sala de casa, em Foz. Eu, sentada no chão, desenhava. Ela estava em pé no braço do sofá, escondida atrás da cortina.
- Paulaaaaa.
Quando eu olhava, ela se enrolava na cortina. Eu voltava para o meu desenho e ela tornava a me chamar. Olhava. Ela se enrolava na cortina. Isso diversas vezes. Até que o inevitável (e você conhecesse a Maya saberia que era realmente inevitável!) aconteceu: ela caiu de cara no chão. Começou a sangrar.
- Mãããããããe! - gritei, desesperada - a Maya caiu.
Nada. A Maya cair era tão normal que minha mãe sequer saiu de onde estava.
- Mãããããããe! A Maya 'tá' sangrando.
Correria. Um pano para estancar, a Maya no colo, em direção à garagem.
- Cuida da Paula - avisou à empregada -, preciso levar a Mayinha ao médico.
Lembro claramente da minha mãe ao volante, com a Maya no colo, a mão num pano, outrora branco, que tentava estancar a rachadura na testa. Alguns pontos a mais no histórico da minha irmã.
Outra vez estávamos na casa da minha tia, em Florianópolis. Eu saía do banho, o chão estava um pouco molhado. Era a vez da Maya ir para o chuveiro. Ela veio correndo, arrancando a roupa. Eu disse que o chão estava molhado? Pois é. A Maya deu um mortal e ficou, literalmente, de pernas para o ar. A cabeça foi em cheio nos trilhos do chuveiro. Corre pro médico, com a camisa empapada de sangue. Mais pontos, mais susto.
No colégio do Matheus, uma vez, a Maya caiu na escada. De quatro. Detalhe: ela estava de minissaia. Para sua sorte, ninguém passava no momento. E, na mesma época, eu e a Muri, uma amiga, presenciamos um dos tombos mais engraçados que já vimos: a Maya pulava nas tartarugas no meio da rua quando, do nada, quicou. Quicou, mesmo. Caiu de bunda e, num piscar, já estava de pé. Nem deu tempo de oferecer ajuda. Nada. Caiu e estava de pé. Hilário.
Outra vez saímos as duas, num domingo de Páscoa, de bicicleta, para desejar feliz páscoa a alguns amigos. A volta para a nossa casa era uma descida vertiginosa. Eu vinha pedalando na frente. Sou a mais velha, costumava ser mais atenta. Vi uma lobada à frente e gritei, enquanto freiava>
- Maya, quebra-molas. Vai com calma.
- Quêêêêê?!
Não deu tempo. A bicicleta dela bateu na minha e, enquanto me prensou e me levou ao chão, o impacto fez com que ela atravessasse a rua. Voando.
Mas nessa semana não. A Maya tentou se superar. Teve a capacidade de derrubar as chaves no telhado da garagem ao lado e foi buscar. O telhado cedeu. Ela caiu. Cerca de 4 metros. Caiu de costas, não podia andar. Conseguiu virar de bruços, rastejar até um pilar.
Mas, no telefone, ela me confessou. Não caiu. Ela queria era ver se ela era mesmo a Maya Poppins. Só esqueceu do guarda-chuva. Quem sabe na próxima...


quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aceno de partida

12 de fevereiro de 2004. Meu coração ficava em pedaços enquanto as lágrimas escorriam dos meus olhos. Minha mãe e minha irmã embarcavam rumo à Bahia para desvendar terras novas. Ficava, em mim, a torcida por uma vida boa para elas, lá, e a vontade de revê-las o mais breve possível. E de conhecer a terra tão cheia de encantos que me contavam as cartas. Que me mostravam as fotos. Que me cantavam os sons. E que é ainda mais apaixonante com todas suas cores, suas nuances, seu canto.
De 2004 para cá aprendi a lidar com a saudade, que aperta, que sufoca, quase mata. Aprendi que uma ligação de bom dia pode trazer toda a alegria de um dia. De lá para cá, todas as pessoas da minha família foram se afastando e fui me sentindo cada vez mais só. Com a força e segurança - sempre! - do meu pai, até que decidi eu ir para longe.
Fui para as terras do sem-fim. Por lá fui feliz, hoje percebo. Mas, à época, eu queria mais. Queria minha terra. Meu Paraná. E voltei. A saudade que me corroia foi se tornando mais branda e a minha família voltando para perto de mim.
Julho de 2010. A data, precisa, não está definida. Mas, tal qual o 12 de fevereiro de 2004, vai marcar minha vida. Agora toda minha base, todo meu porto, toda minha segurança vai estar a poucas horas de mim. Distantes, ainda, mas tão perto. E sempre ao alcance de um alô. E isso me faz feliz.

(Minha família continua espalhada, mas agora quase todos estão no Paraná. E eu me sinto mais em casa, de novo. Mãe, te aguardo ansiosa. Te amo!)