segunda-feira, 25 de julho de 2011

Disritmia

O desejo até podia ser o mesmo, mas o tempo não. A vontade de estar perto, de estar junto, de construir uma vida a dois era mútua. Mas ele queria agora, ela não. Ela queria o mundo. Queria voar, descobrir e se descobrir. E queria ele, depois disso. Ele tinha certeza e pressa. Principalmente pressa. Queria ela, casar com ela, filhos dela, envelhecer ao lado dela. Tudo agora. E, por um tempo, ela também queria. Ou achava que queria.
Decidiu partir. A cidade pequena a abafava, sufocava. Talvez pelo calor, talvez pelo tanto tempo sem nada. Precisa de desafios, obstáculos, objetivos. Precisava construir algo. E o deixou. Não por muito tempo, pensou. Mas não por pouco, também. Ele precisava aprender que o mundo ia além dela. Que era grande, enorme. Que era possível ser feliz, também, sem ela.
Mas ela o queria bem. Queria-o por perto. Mesmo que o perto ainda fosse longe. Ajudou que ele se encontrasse. Buscasse um rumo melhor, um caminho mais amplo. Acreditasse que, sim, ele também podia construir o seu mundo. E que, com seus mundos mais concretos, seus caminhos poderiam voltar a se cruzar. Porque havia o desejo mútuo de passarem uma vida juntos.
Mas ele tinha pressa. E certeza. E vontade de tudo agora. Mal começou a trilhar a nova estrada e substituiu ela. Fez novos planos e, sem planejar nada, casou, engravidou, envelheceu. Longe dela. Que aprendeu a voar, a descobrir o mundo. E se descobrir a cada dia.

3 comentários:

  1. Como diz uma amiga minha, que ouviu de amigas dela: quem manda sonhar tanto? Nem preciso dizer que ela é do interior, como eu sou, como você também é (acho). Sou inconformada, sempre achei que o mundo é grande mais pra caber numa cidade, num emprego, numa pessoa. A gente fica irrequieto, quer saber de tudo ao mesmo tempo agora. Um dia passa, ou não. Hehe Pensei que era autobiográfico, por isso escrevi tudo isso. Se não for, parabéns pela narrativa!

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  2. É sintonia. Ritmo. Mas como o mundo é grande e ao mesmo tempo uma ervilha, talvez ele e ela se encontrem mais uma vez. Só que daí no mesmo tom. Vai saber. Tem essa coisa de destino, sina, fado, sorte.

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  3. Seu texto é lindo, Paula.
    E o comentário da Lari diz tudo o que me passa pela cabeça: "Tem essa coisa de destino, sina, fado, sorte."

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