sábado, 5 de março de 2011

Sem superstição

superstição s. f. 1. Sentimento de veneração religiosa fundada no temor ou ignorância e que conduz geralmente ao cumprimento de falsos deveres, a quimeras, ou a uma confiança em coisas ineficazes. 2. Opinião religiosa fundada em preconceitos ou crendices. 3. Presságio que se tira de acidentes e circunstâncias meramente fortuitas.



Casou de branco, como manda o figurino. Em uma comemoração pública, como é de se esperar. Manteve a castidade; só a entregaria ao homem de sua vida depois do 'sim' no altar. Escolheu minuciosamente cada detalhe, cada pessoa, cada flor de seu buquê. Dispensou a chuva de arroz, não acreditava que aqueles grãos lhes trouxessem energia positiva. Arroz simbolizava frutificação, prosperidade, fertilidade, saúde, riqueza e felicidade, mas para os chineses e hindus, e certamente ela não era um ou outro. Esqueceu-se do nome das amigas na barra de seu vestido, tampouco quis jogar buquê. Se não foi preciso que ela pegasse um buquê para estar ali, àquela hora, as amigas também não precisariam. Entretanto, lembrou-se de, primorosamente, preparar um arranjo para cada uma das solteiras presentes. Como uma lembrança, pensou. Certificou-se de que teria um sino, uma bíblia e de que as alianças estariam lá. O ritual seria completo, perfeito, intangível. Se não fosse um pequeno detalhe. Mínimo, ínfimo. Imperceptível a olhos sem superstição, mas que fizeram os da noiva transbordar. Antes da cerimônia, num ímpeto, o noivo entrou em seu quarto e viu, pendurado, parte de seu vestido. A causa mortis do brilhantismo da festa fora decretada. O que restava, agora, era chorar.

2 comentários:

  1. Tudo deu certo, mesmo sem a perfeição tão almejada.
    Percalços fazem parte da vida real!
    Amei o texto. Muito.

    ResponderExcluir
  2. Também amei o texto.
    Não sei se me considero supersticiosa, mas sem superstição com certeza não sou!
    =)

    ResponderExcluir