quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Seu João Maia


Poucas pessoas tiveram a oportunidade, como eu, de conhecer todos os seus avós e praticamente todos os bisavós. Só não conheci a mãe da minha avó paterna, que faleceu quando minha avó ainda tinha três anos. Mas, apesar de conhecê-los, não convivi muito com eles. Minha família é muito espalhada, a do meu pai praticamente inteira no Rio Grande do Sul, e a da minha mãe em Goiás. Por isso mesmo, não posso dizer que preferi um a outro, é impossível. Sempre foi bom visitar a todos e ouvir suas histórias. Mas existem aqueles que se tornam ícones. Seu João Maia é um deles.
Tem a mesma feição desde que me lembro dele, há mais de 20 anos. Marcou, sempre, para mim, o tom bravo, mas divertido. Sabe aquele senhorzinho que fica na varanda contando causos da roça para as crianças? Pois é, seu João Maia era assim. Lembro dele contando de como enfrentou, sozinho, à noite, com uma tocha, uma onça que o perseguiu pela roça. Ou do espírito que montou no cavalo em que ele trotava quando passou pelo cemitério. Sempre achei fascinantes suas histórias. Sua coragem. Sua destreza.
"Meu pai é uma rocha". Sempre ouvi a vó Inha dizer isso, desde pequena. E mantive isso pra mim. Seu João Maia fez história. Ele era uma rocha. Venceu um câncer depois dos 80, metia medo em qualquer um aos 90 e queria tudo ao seu gosto. Sem contrariedades. Mas o tempo, ah, o tempo, esse é cruel. Fez com que a rocha do seu João Maia fosse ficando menos rígida. Que as chuvas fossem acabando, pouco a pouco, com a fortaleza. E hoje, depois de tanto desgaste, a rocha quebrou. Seu João Maia foi descansar, ao lado dos seus. Ao lado dos nossos. Construindo nosso lar eterno, cuidando para que nossa vida pós-morte seja melhor. Assim acredito. Assim espero.
Mas ninguém há de negar. Seu João Maia era, sim, uma rocha. Esperou ser tataravô para que partisse. Quando muitos não conseguem, sequer, ver os filhos crescerem. Tenho para mim que ele não queria mais viver nesta terra depois que a vó Maria, a última bisavó viva, se foi, há cerca de dois meses. Eles já não eram um casal há tempos, não os conheci juntos. Mas, quando ela se foi, ele lamentou-se: "ela sempre foi a mais linda de todas". Sim, era uma rocha. Mas com o coração de uma rosa. Uma rosa que completaria 95 anos no próximo dia 28. Uma rosa que marcou seu nome na história. Que virou lenda. Que, quiçá, vai virar poesia.

2 comentários:

  1. Comovente. Ser tataravô é para poucos, bem poucos. É uma pena o tempo acabar para todos nós, um dia.

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  2. Muito linda e merecida esta homenagem...

    Seu João Maia vai deixar saudades eternas...

    Sempre duro como a vida o fez... mas um coração de ouro...

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